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Nem todo mundo pode ser os Ramones e começar completamente formado, dando uma primeira impressão que dura a vida inteira. De ícones do rock sessentista a heróis do rock alternativo dos anos 1990, aqui estão alguns artistas que provam que mesmo devagar eles podem ganhar a corrida – mesmo depois de um começo ruim.

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David Bowie, David Bowie (1967)

Refletindo sobre seu antigo estilo, Bowie admitiria posteriormente: “Não sabia seu era Max Miller ou Elvis Presley”. Miller, também conhecido como o “Cheeky Chappie”, foi um gigante da música de salão britânica e é possível ouvir a influência dele na vasta teatralidade do jeito de cantar de Bowie. Mas se o Camaleão estava imitando Elvis, não era o roqueiro cujo rebolado mudou o mundo nos anos 1950, mas sim o ator controverso que derrotou Bill Bixby um uma corrida de lancha no filme O Barco do Amor (1967). Se você se sentir caridoso, poderá dizer que faixas como “Uncle Arthur” são comparáveis à ironia e crônica da vida britânica do Kinks. Ou dizer que “Love You Till Tuesday” partilha da psicodelia infantilizada do início da carreira do Pink Floyd. Mas aí você estaria sendo caridoso demais.

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George Harrison, Wonderwall Music (1968)

O primeiro lançamento da Apple Records – e a primeira gravação solo de um beatle em todos os tempos – foi uma séria expressão do interesse genuíno de George Harrison na música clássica indiana. Contudo, o disco reduziu uma tradição complexa em uma coletânea de músicas de fundo. Wonderwall Music pode ser mais memorável do que o filme de Jane Birkin do qual ele foi trilha sonora. Mas, mesmo assim, não deixa de ser apenas uma trilha sonora – música feita para acompanhar e complementar um filme, que não se sustenta por si só. O melhor que pode ser dito de Wonderwall Music é que ele é provavelmente mais significativo para a história do que o álbum experimental que John Lennon lançou um mês depois – afinal, o Oasis nunca escreveu um hit chamado “Two Virgins”.

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Elton John, Empty Sky (1969)

Elton John parecia ter chegado do nada quando “Your Song” explodiu nas rádios norte-americanas em 1970, e o disco autointitulado dele subiu nas paradas. Muitos presumiram que aquele era o primeiro álbum dele, mas meses antes ele havia lançado Empty Sky na Inglaterra. A faixa-título de oito minutos de duração é um rock bem construído e a bonita balada “Skyline Pigeon” permaneceu no repertório de John por décadas, mas a maioria do álbum é simplesmente muito limitado. A produção é escassa e simplesmente incomparável à obra que John atingiu nos anos 1970 com o brilhante Gus Dudgeon. “A feitura de Empty Sky ainda me traz as memórias mais legais para mim”, disse ele, anos depois. “Imagino que seja difícil explicar a animação que sentimos quando o disco começou a ganhar forma”. O resto do mundo não compartilharia o entusiasmo de John até que o atemporal segundo álbum dele começou a chegar às lojas no ano seguinte.

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Yes, Yes (1969)

Os fãs do Yes clamam que a banda habilmente uniu a complexidade da música clássica, o poder e sujeira do rock e o comprometimento melódico do pop. Críticos de Yes desprezam-no como um disco minuciosa e polidamente broxante. Provavelmente a coisa mais condenatória que você pode dizer sobre a estreia da banda, de 1969, é que há muito em que se trabalhar. John Anderson (que ainda não tinha tirado o “h” do nome) ainda não havia desenvolvido sua perspicácia distinta: ele canta como um aluno zeloso e bem comportado. E ainda que o guitarrista Peter Banks seja figura crucial no desenvolvimento do rock progressivo britânico, esta banda precisava de Steve Howe para aflorar seu som. As duas faixas mais notáveis são covers: uma versão jazzística e iluminada de “I See You” (The Byrds) e uma insuficiente tentativa de transformar “Every Little Thing”, dos Beatles, em uma improvisação complexa. O resto é uma coletânea de formalidades mal acabadas, uma caneca de chá morna que ainda não imergiu o suficiente.

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Thin Lizzy, Thin Lizzy (1971)

O monólogo falado que dá início ao disco de estreia do Thin Lizzy, de 1971, severamente anuncia o que vem a seguir: “The friendly ranger paused/ And scooping a bowl of beans /Spreading them like stars”. Neste confuso lançamento, o Thin Lizzy apostou em uma variedade de estilos, do rock ao folk e ao blues, e tropeçou estranhamente em todos eles. Das referências a Jimi Hendrix da desajeitada “Ray-Gun” à frouxa e deformada “Clifton Grange Hotel”, passando pelo emaranhado de “Return of the Farmer’s Son” (que soa como uma jam que eles esqueceram de transformar em música), o Thin Lizzy oferece pouco que diz respeito ao hard rock de guitarras “gêmeas” realçadas que o grupo – com uma formação diferente – levaria à glória na segunda metade da década de 1970. Uma possível razão para isso? “Muito daquilo foi improvisado”, disse o guitarrista Eric Bell àNoisey recentemente. “Nós três só fizemos isso no estúdio porque estávamos bêbados.”

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Lou Reed, Lou Reed (1972)

A expectativa pela estreia solo de Lou Reed era bastante alta no começo de 1972. Como líder do Velvet Underground, ele havia escrito algumas das mais brilhantes músicas da década anterior. E então, depois de uma longa hibernação, ele estava começando uma nova fase da carreira. Infelizmente, ele não chegou nas sessões de gravação em Londres com muitas músicas novas, e acabou simplesmente regurgitando faixas antigas do VU, como “I Can’t Stand It”, “Ride into the Sun” e “Lisa Says”. O produtor Richard Robinson o juntou com os integrantes do Yes Rick Wakeman e Steve Howe, e as diferenças radicais entre os estilos musicais deles simplesmente não deram liga. O álbum resultante ficou molenga e desapontou, atingindo um patético 189º lugar nas paradas norte-americanas.

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Prince, For You (1978)

Quando o prodígio de 19 anos de idade de Minneapolis chamado Prince fez um acordo para três discos com a Warner Bros., ele e seu empresário de alguma forma convenceram a gravadora a deixá-lo produzir o próprio álbum de estreia. As sessões resultantes foram assoladas por tensões com o produtor executivo Tommy Vicari e deixaram o músico com um débito de mais de US$ 100 mil e aniquilado fisicamente. “Não foi muito eu, era como uma máquina”, ele diria posteriormente em uma entrevista à revista Musician, em 1982. Talvez este seja o problema de For You: formulaico e exageradamente produzido, sem a inspiração por trás de tudo. Prince soa reservado e brega em “In Live” e “Just as Long as We’re Together”, mas sem a composição espirituosa que marcou sua obra posterior. Apenas “Soft and Wet”, modesto hit em rádios de música negra na época, e a subestimada funk-rock “I’m Yours”, dão pistas do que viria a emergir de Prince.

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Sonic Youth, Sonic Youth EP (1982)

É tentador classificar estas cinco faixas como barulho artístico, mas, na verdade, a estreia do Sonic Youth não tem arte nem barulho suficiente – principalmente se você considerar que Kim Gordon entoa repetidamente “Fucking youth/ Working youth” em uma faixa e uma furadeira elétrica é proeminentemente acionada em outra. Este pós-punk árido, sombrio e de terceira mão é prova de que a música pode soar simultaneamente revolucionária e genérica. Os guitarristas Thurston Moore e Lee Ranaldo ainda não haviam chegado às afinações e configurações distintas, e em nada ajuda o fato de o baterista da banda na época ser um entusiasta do Rototom chamado Richard Edson. Comum é o tédio tenebroso de “I Dreamed a Dream”, que poderia ser trilha sonora de um filme de terror no qual alguém anda em uma garagem escura por duas horas e nada nunca surge das sombras. O Sonic Youth nunca seria a grande banda que foi se não fosse pretensiosa, mas o Sonic Youth nunca seria uma grande banda se eles continuassem tão pretensiosos quanto neste disco.

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Pantera, Metal Magic (1983)

De músicas periféricas como “Ride My Rocket” e “Nothin’ On (But the Radio)”, passando pelas imitações melodramáticas de David Coverdale pelo vocalista Terry Glaze, até o uso abundante de sintetizadores e a capa do álbum: Metal Magic não é o Pantera que conhecemos. O disco de 1983 é um vergonhoso flerte com o onipresente hair metal da época, tão berrante que nenhuma grande gravadora iria tocá-lo. “Sempre olhei para o Pantera como o Van Halen do heavy metal”, disse o baterista Vinnie Paul anos depois, citando que assistir a um show do Metallica em 1983 foi o catalisador para a banda ficar mais pesada. Entretanto, nos anos seguintes, o grupo sempre encolhia os ombros quando entrevistadores perguntavam sobreMetal Magic e os dois discos afetados que se seguiram (com títulos equivalentemente ridículos: Projects in the Jungle e I Am the Night). Eles sempre mudavam a conversa de rumo para apontar que o thrash e durão Cowboys From Hell – de 1990, já com Phil Anselmo nos vocais – foi o “primeiro disco em uma grande gravadora”. Não espere um relançamento de luxo tão cedo.

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Blur, Leisure (1991)

Depois de a Food Records convencer os novos contratados a mudar o nome de Seymour para Blur, a banda lançou um disco de estreia com pouquíssimo de rock alternativo noventista decente, que valesse a pena. Leisure tem apenas flashes do pop dissonante que marcaria a banda, nos singles “She’s So High”, “There’s No Other Way” e “Bang” – os três apareceram como as primeiras faixas na tracklist refeita para o lançamento norte-americano. A mudança na ordem das músicas, entretanto, só amplificou a irrelevância do lado B do vinil: há a abordagem shoegaze amadora de “Birthday”, a sonoridade de Smiths recauchutada de “Fool” e tantos outros conceitos mal desenvolvidos do que posteriormente viria a ser o rico Modern Life Is Rubbish (1993). O vocalista Damon Albarn chamou Leisure de pavoroso, e disse (no documentário de 2010 do Blur No Distance Left to Run): “Graças a deus havia uma época em que você poderia fazer um disco que não estava certo e não ser descartado no minuto seguinte.”

Fonte: rollingstone.uol.com.br

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